Ele falava sem parar. Algo sobre como foi o jogo e como ele marcou o ponto decisivo. Ele sempre gostou de contar vantagem como se eu realmente me interessasse pelo seu jogo e eu sempre fingia me interessar. Não por gostar de saber, mas por gostar que ele contasse.
O sorvete entre nós estava sendo atacado por mim, apesar desse não ter sido o combinado. Mas ele estava ocupado demais falando e passando a mão no cabelo de tempo em tempo. Eu apenas tinha reações esperadas pra que ele não achasse que eu não estava ouvindo.
Até que trocamos de personagem. De repente, ele comia e eu tagarelava. Não me lembro bem sobre o que, talvez porque nunca pensei muito antes de lhe falar nada, não tinha limites ali, com ele. Não é que eu fale muito, mas entre nós tudo sempre era motivo de debates, perguntas e piadas. Horas se passavam e a conversa não acabava. Éramos barulhentos juntos, e silenciosos separados. Se estivéssemos separados.
Tinhamos chegado no restaurante a uma hora e já estávamos pedindo a conta. Os grandes assuntos da noite tinham sido apenas dois: como o garçom estava demorando e o quanto estávamos ocupados um para o outro. A única coisa que conseguia pensar era o quanto nossa relação havia mudado. Como numa montanha-russa ela teve um ponto muitíssimo alto e depois foi tudo queda. Por enquanto estavamos a espera de uma outra possivel subida.
Durante aqueles anos e dias juntos parece que cobrimos todos os assuntos existentes e chegamos ao limite em que nada mais que o outro fale é realmente interessante.
Procurei, a uma hora toda, por algo no seu olhar que me lembrasse como era antes. Algo que me levasse de volta aqueles dias de muito barulho. Nada. Nem um pequeno vestígio do que ele era, do que éramos.
E então ele sorriu. Um meio sorriso de quem diz "eu ainda estou aqui, eu ainda sou seu porto-seguro" ao mesmo tempo que sabe que tudo mudou. Ao mesmo tempo que sorri com seu sorriso senti um nervoso automático, como um soco na barriga.
Fiquei me perguntando se havíamos descoberto tudo um do outro ou se tínhamos apenas ficado sem criatividade pra novas perguntas ou sem vontade de descobrir. Me perguntei se ainda éramos nós por amor e companheirismo ou por pura comodidade. Me perguntei se ele também se perguntava isso.
"The older couples, the ones sporting wedding bands that wink with their silverware, eat without the pepper of conversation. Is it because they are so comfortable, they already know what the other is thinking? Or is it because after a certain point, there is simply nothing left to say?" - My sister's keeper
O sorvete entre nós estava sendo atacado por mim, apesar desse não ter sido o combinado. Mas ele estava ocupado demais falando e passando a mão no cabelo de tempo em tempo. Eu apenas tinha reações esperadas pra que ele não achasse que eu não estava ouvindo.
Até que trocamos de personagem. De repente, ele comia e eu tagarelava. Não me lembro bem sobre o que, talvez porque nunca pensei muito antes de lhe falar nada, não tinha limites ali, com ele. Não é que eu fale muito, mas entre nós tudo sempre era motivo de debates, perguntas e piadas. Horas se passavam e a conversa não acabava. Éramos barulhentos juntos, e silenciosos separados. Se estivéssemos separados.
Tinhamos chegado no restaurante a uma hora e já estávamos pedindo a conta. Os grandes assuntos da noite tinham sido apenas dois: como o garçom estava demorando e o quanto estávamos ocupados um para o outro. A única coisa que conseguia pensar era o quanto nossa relação havia mudado. Como numa montanha-russa ela teve um ponto muitíssimo alto e depois foi tudo queda. Por enquanto estavamos a espera de uma outra possivel subida.
Durante aqueles anos e dias juntos parece que cobrimos todos os assuntos existentes e chegamos ao limite em que nada mais que o outro fale é realmente interessante.
Procurei, a uma hora toda, por algo no seu olhar que me lembrasse como era antes. Algo que me levasse de volta aqueles dias de muito barulho. Nada. Nem um pequeno vestígio do que ele era, do que éramos.
E então ele sorriu. Um meio sorriso de quem diz "eu ainda estou aqui, eu ainda sou seu porto-seguro" ao mesmo tempo que sabe que tudo mudou. Ao mesmo tempo que sorri com seu sorriso senti um nervoso automático, como um soco na barriga.
Fiquei me perguntando se havíamos descoberto tudo um do outro ou se tínhamos apenas ficado sem criatividade pra novas perguntas ou sem vontade de descobrir. Me perguntei se ainda éramos nós por amor e companheirismo ou por pura comodidade. Me perguntei se ele também se perguntava isso.
"The older couples, the ones sporting wedding bands that wink with their silverware, eat without the pepper of conversation. Is it because they are so comfortable, they already know what the other is thinking? Or is it because after a certain point, there is simply nothing left to say?" - My sister's keeper
3 comentários:
You know what's the funny thing about those questions?They are always there.They never leave.
All that is left for us, is to hope it is just a crisis, and that it will pass.Cause after the whole drama,when you look in that person's eyes,all you expect,is that one day,the look will go back to what it was one day.
Fiquei curiosa... não faço ideia de quem seja!!! auhauhau....
quando eu cheguei no sorriso, pensei "ufa, ela não vai me mergulhar nesse mar de depressão que a maldita da mudança é". mas não. você tinha quer ser má.
keep up the good work.
(i mean it.)
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