terça-feira, 16 de setembro de 2008

Drink The Water

Dois, opostos com o mesmo destino. Ela? Nervosa, à beira de lágrimas. Ele? Relaxado, Jack Johnson no iPod. A rua? Vazia. O dia? Lindo.
Param no ponto de ônibus, não se veêm. Chega o ônibus e ela entra primeiro. Se acomodou num banco qualquer, na verdade, se jogou. Abria a bolsa quando ele sentou do seu lado. Ela fingiu não perceber ninguém. Tentava em vão abrir um calmante de dentro da maxi-bolsa.
- Quer ajuda? - ele perguntou sorrindo.
- Não. - afinal, não precisava mais, tinha conseguido.
- Água? - ele ofereceu uma guarrafa fechada. Finalmente ela lhe encara, o analisa por alguns segundos, mantém no rosto uma expressão de incompreensão. Pega a garrafa, engole o remédio em um só gole. Tremia. - É, está tudo bem?
E aí ela desabara. Lágrimas escorriam sem parar, o rosto estava vermelho. Foram as palavras mais inapropriadas mas, ao mesmo tempo, tudo que ela queria ouvir. E de um completo estranho.
Sem saber o que fazer, ele segurava tudo que estava no colo dela, já que ela ocupava as mãos com o rosto. Guardou a garrafa de agua dentro da bolsa, fechou-a. Olhava perplexo para ela que ainda tremia. Perguntou de novo. Então ela contou. Tudo, desde o momento em que fora recusada de mais um emprego até o telefonema que recebera lhe dizendo que o pai tinha sofrido um ataque cardíaco. O mesmo pai com quem não falava havia anos.
Ele já não se importava tanto em segurar a bolsa, na verdade o que segurava agora eram as mãos dela. Eram pequenas, estavam geladas. Tentava com as suas próprias aquecê-las.
Ela, agora em silêncio, analisava aquele que a tinha escutado com tanta boa vontade. Aquele que de repente se tornara seu porto seguro, um verdadeiro refúgio. Mais calma, respirou fundo e agradeceu por aquilo, por ter tirado os fones do ouvido e ter perdido aquele tempo todo com ela e seus problemas. Ele apenas sorriu e apertou suas mãos.
Foi nesse segundo de troca de olhares que o ônibus parou. Era o ponto dela, tinha que descer. Os dois se levantaram, trocaram um abraço. Ela saiu correndo e gritando 'obrigada, a gente se vê!'. É claro que perceberam que não sabiam o nome um do outro, muito menos haviam trocado telefone, não tinham como se encontrar. Eram realmente desconhecidos, que continuariam desconhecidos.
Mas às vezes é só disso que você precisa. Conversas emocionais com qualquer pessoa, um desconhecido que te faça sorrir. Um total desconhecido.


No iPod dele: Drink the Water - Jack Johnson

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